
ROTA DAS MISSÕES - São Miguel RS
Em meio a uma paisagem linda e terras muito férteis,
aqui existiu uma das mais significativas
reduções indígenas do séc. XVIII.

O portal de entrada para São Miguel das Missões é marcante.


Chegando às ruínas.
O Sítio Arqueológico de São Miguel das Missões é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1983.
As Missões Jesuíticas
Em 1534 Inácio de Loyola funda a Companhia de Jesus. Seus seguidores, chamados de jesuítas, vivem com fervor e alto sacrifício sua missão de evangelizar. Em 1549 chega o jesuíta Manoel da Nóbrega com mais alguns padres ao Brasil.
As Missões Jesuíticas no Brasil foram, de início, muito bem aceitas e apoiadas. Índios “domesticados” seriam mais facilmente controlados e obedeceriam às ordens do governador-geral Tomé de Souza.

Quadro de Rugendas,
representando aldeamento de indígenas.
No oeste gaúcho chegaram jesuítas espanhóis. Afinal, essas terras pertenciam à Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas de 1494.
Com o que restou
fica difícil imaginar o que existiu aqui.
Na recepção do Sítio de São Miguel há uma maquete que ajuda.
Chegaram a viver nessa redução mais de 4.000 índios.
Veja sua organização:
acima a igreja, à direita dela o cemitério;
à esquerda, o curral;
enfileiradas, as casas;
cada porta era a residência de um casal com seus filhos.


O mal nunca tarda.
Encomendeiros portugueses e brasileiros “buscavam” índios para os fazendeiros paulistas, que precisavam de escravos em suas lavouras de cana.
Em 1632 o padre fundador de São Miguel Arcanjo abandonou o local com os índios, refugiando-se em Concepción, no Paraguai.
É o fim da primeira fase de reduções indígenas em terras gaúchas.
A volta aconteceu em 1687, com o deslocamento de 4.195 pessoas. Em três anos já estava quase completa, com a casa dos padres e cem outras para os índios.

Em meio século se desenvolve uma cultura que continua causando espanto.
O Museu
expõe obras de arte feitas pelos índios guaranis.
Museu das Missões
http://portal.iphan.gov.br/portal

A facilidade dos índios para as diversas artes era famosa e sua capacidade de imitação de modelos formais europeus causava espanto nos próprios missionários. Dizia o Padre Sepp:
"O que viram uma só vez, pode-se estar convencidíssimo que o imitarão. Não precisam absolutamente de mestre nenhum, nem de dirigentes que lhes indiquem e os esclareçam sobre as regras das proporções, nem mesmo de professor que lhes explique o pé geométrico. Se lhes puseres nas mãos alguma figura humana ou desenho, verás daí a pouco executada uma obra de arte, como na Europa não pode haver igual".


O arquiteto Lucio Costa foi enviado em 1937 ao Rio Grande do Sul para analisar os remanescentes dos Sete Povos das Missões e propor providências. Uma de suas propostas foi a de criar um museu para abrigar a estatuária missioneira dispersa pela região.

Fico dividida entre a beleza do lugar e a arte sacra dos indígenas.

A mãozinha da criança brincando
com o queixo do padre.

Muitas outras reduções tiveram desenvolvimento estupendo.
Página do Cancioneiro Chiligudú, com dezenove partituras que Bernardo de Havestadt incorporou ao II volume de sua obra sobre a língua dos índios mapuches do Chile.
A letra das canções, publicada em separado, é em mapuche e trata de conceitos básicos da fé cristã.
Este dorso queimado me comove.
Será obra do descaso com a arte?
Ou será a representação do martírio do Padre Roque de Caaró? Depois de morto, seu corpo foi esquartejado e seu tronco jogado na fogueira.
Relato sobre São Roque:

Cruz Missioneira
O seu tamanho é de aproximadamente 4 metros de altura, entalhada em um único bloco de pedra grês, um verdadeiro monólito portando os seus braços em haste dupla. Não há dados sobre seu real peso, acredita-se que deva ter algumas toneladas. Devido a alguns detalhes nos seus entalhes os quais reproduzem os existentes na “Cruz de Caravaca”, como se fosse uma réplica da mesma, julgam alguns que os Jesuítas a trouxeram daquela localidade situada na província de Múrcia na Espanha.


História de São Miguel Arcanjo
Primeira fase:
Seu primeiro fundador fora o padre Cristóvão de Mendonça, em 1632, que atacado por predadores bandeirantes, abandonou o local com os índios e se refugiaram em Concepción, no Paraguai.

Segunda fase:
A volta aconteceu em 1687, com o deslocamento de 4.195 pessoas. Em três anos a redução de São Miguel já estava quase completa, com a casa dos padres e cem outras para os índios.

Em 1697 São Miguel foi dividida, indo 2.832 pessoas fundar a redução de São João Batista. Em 1707 possuía 3.110 habitantes. A igreja foi obra do padre João Batista Primoli, que de 1735 a 1744 a levantou empregando somente operários indígenas.

No século XVIII, a região do atual Rio Grande do Sul estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 havia posto a área à disposição de Portugal em troca da Colônia do Sacramento (sul do atual Uruguai), e a saída dos Jesuítas espanhóis ali ficou decretada.

Mas este Tratado gerou conflitos: nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, nem os portugueses queriam abandonar Sacramento.

Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica, deixando um rastro de destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema missioneiro.
No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas.

Logo depois veio fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo.
Então suas terras foram apossadas pelos colonizadores e os índios foram subjugados ou dispersos.

Quando em 1801 eclodiu nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens Manuel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto conseguiram conquistá-los para Portugal. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar na região, encerrando todo um ciclo civilizatório e dando início a outro.
Volto ao Museu para fotografar o sino.
Ele deveria estar no campanário. Mas está aí, mudo.
Sob as mesmas estrelas que viram glória e sofrimento de São Miguel, sentamos à noite diante das sombras das ruínas para ver e ouvir “SOM e LUZ”, uma narrativa impactante transmitida por alto-falantes distribuídos na escuridão. Vozes como a de Fernanda Montenegro declamam em versos eruditos o desfecho trágico após 1750.
Espetáculo de Som e Luz
http://www.saomiguel.rs.gov.br/portal1/municipio/ponto_turistico.asp?

A cidade que cresceu em volta do Sítio Arqueológico é pequenininha, mas o progresso é evidente. Sem comparação com o que vimos há 25 anos atrás.
Em dias movimentados, encostam 100 ônibus de turismo diante da entrada do parque.
É uma aula de história que todo brasileiro deveria experimentar.